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Doctorat
d’Arts Plastiques à l'Université de Paris I Panthéon-Sorbonne,
1995. Professeur à l'Institut des Arts de l'Université Federale
du Rio Grande do Sul / UFRGS à Porto Alegre, et enseignant-chercheur
au CNPq, Brésil. Sa
pratique artistique explore plusieurs médiums, où les notions
de présentation ou de vide sont récurrentes. Il participe
régulièrement à des expositions personnelles et collectives
au Brésil et dans divers pays d’Amérique du Sud, ainsi
qu'en Europe depuis 1983. Dans le cadre du programme FPES - Perdidos no
Espaço et du Projeto Areal, il a proposé et développe
une série de projets artistiques divers.
Auteur du livre O + é deserto, Escrituras Editora, São Paulo,
2003.
Trois principaux
centres d'intérêt sont développés dans son
travail artistique : Les
possibles 'inscriptions' dans un espace, fait d'interruptions, d'intervalles
et de vides, au moyen de signes et de notions relatives à la ponctuation.
La prise en compte de certaines données présentes dans un
contexte et des espaces architectoniques, culturels, économiques,
sociaux ou symboliques, mises en relation avec la présentation
formelle d'une oeuvre, comme éléments constitutifs des propositions
artistiques produites. L'investigation
sur les processus de présentation, en rapport avec la notion d'art.
Furtiva Transparência
‘
Escrevi este texto instigado pelas perguntas formuladas pela artista gaúcha
Cláudia Zanatta, numa conversa que tivemos através de e-mails.
Este diálogo não é definitivo e gostaria de, num
futuro próximo, publicar o texto integral dessas interlocuções.
As perguntas de Cláudia foram suscitadas por uma intervenção
que realizei no início deste ano e que se chamou “Furtivo
(o mito produz desertos)”.
A intervenção constituiu-se de um número ilimitado
de adesivos em vinil (11 x 8 cm), produzidos a partir da silhueta do avião
de combate norte-americano F-117. Os adesivos são transparentes,
de maneira a integrar-se com a superfície dos lugares onde forem
colocados, tornando-se minimamente perceptíveis. Inicialmente,
eles estavam previstos para serem inscritos e disseminados em muitos pontos
no campus central da UFRGS durante o evento “Perdidos no Espaço”,
o qual integrava o III Fórum Social Mundial, realizado em Porto
Alegre em 2003. Mas, na medida em que a proposta foi sendo realizada,
ocorreram descobertas e alterações. Os adesivos foram colocados
única e finalmente sobre os monitores dos caixas bancários
de distribuição automática presentes dentro do Campus.
Esta opção deve-se a motivos que se inter-relacionam.
O primeiro é mais circunstancial. Ele relaciona aspectos militares
¾ o F-117 é um avião de combate ¾ e financeiros
e a inserção dessa relação em nosso cotidiano
na véspera do que foi a guerra do Iraque.
O segundo motivo tem a ver com as características materiais dos
recortes produzidos para realizar as interferências. Os adesivos
feitos a partir da silhueta do Furtivo são transparentes e confundem-se
com a superfície sobre a qual se inscrevem. Eles, de uma certa
forma, desaparecem. Isso tem a ver com o F-117, um avião que é
dificilmente detectável. É como se ele fosse invisível.
Além do mais, a transparência esvazia, por assim dizer, o
design inusitado e característico desse avião. A forma está
lá, mas é como se ela estivesse vazia.
O adesivo do “Furtivo” que realizei tornou-se invisível
pela transparência. Essa transparência foi o que me atraiu
¾ depois de ter experimentado um pouco aleatoriamente sobre muros
e paredes ¾ para as portas, janelas, vitrines e divisórias
em vidro existentes no Campus. Quer dizer, interessou-me esta característica
que possuem algumas superfícies de deixar passar nosso olhar e
transparecer o que está além delas. O que está do
outro lado dessas superfícies pode mudar ou ser trocado sem afetar
sua constituição. Mas elas também nos confundem,
por mostrar-se invisíveis. Superfícies envidraçadas
podem ser barreiras para o nosso corpo e imperceptíveis ao nosso
olhar.
Caixas automáticos são parte constituinte, hoje em dia,
do mobiliário urbano de nossas cidades e pontos de conexão
de uma imensa rede internacional de informação e circulação
de valores. Os monitores dos caixas automáticos são também
em vidro e deixam transparecer não uma paisagem, mas um produto
ou uma informação. Nesse sentido eles podem ser aparentados
as vitrines, por exemplo. Quando colei um dos adesivos nessa superfície,
percebi que o recorte do “Furtivo” havia encontrado seu lugar
e a proposta, sua definição. Dava-se o encontro de dois
elementos bastante carregados simbólica e ideologicamente, mas
sem redundância de visibilidades e problematizando sua constituição.
Esse esvaziamento da forma do avião pela transformação
de sua silhueta numa superfície transparente chegou ao seu ponto
maior de intensidade quando do contato com a superfície também
transparente do monitor. Mas, estranhamente, esse ponto de maior intensidade
adquiriu ressonância em termos negativos e não cumulativos.
Esse encontro tornou-se esvaziamento potencializado.
Curiosamente, “Furtivo” vive à beira do desaparecimento.
Assim como o avião do qual tira emprestado seu nome, o que faz
sua característica é essa dificuldade em ser percebido por
um certo sistema de referência e localização. Parece
que é isso que ele problematiza. Nosso mundo é povoado por
sistemas de signos e percepções que também ¾
ou sobretudo ¾ são sistemas de valores. Na maior parte do
tempo, não vemos e não compreendemos como esses sistemas
se estabelecem e se relacionam e grande parte da produção
de visibilidades, devido ao seu excesso, colabora com esse estado de coisas.
Um outro aspecto que o Furtivo problematiza é sobretudo o do processo
de apresentação: como e quando sabemos que algo é
apresentado como arte? O que é que torna possível uma apresentação
em arte? Uma concepção da arte? Uma percepção
da apresentação como apresentação da arte?
Uma percepção do que seja arte? Quais os limites da apresentação?’
Helio
Fervenza
Agosto de 2003
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